segunda-feira, 3 de março de 2014

Trecho de Código do Mares - Os Contos do Tempo

Separei um dos trechinhos que mais gostei de escrever do meu livro:

"Intocado. Talvez agraciado. O espírito daquele velho homem, na cela úmida, poderia valer uns trocados, já que seu corpo fedia a urina de ratos e restos de madeira. Os olhos fixos na única luz do ambiente não imploravam, não sonhavam. Com um tipo de glaucoma, estavam à mercê do tempo pelos raios de Sol que passavam pela janela de trinta centímetros quadrados. Boquiaberto e tão quieto como uma estátua, era um legítimo boneco bêbado à espera de seus últimos dias. Apenas estava lá, recebendo migalhas, enquanto outros presos, não menos dementes, traçavam planos de fuga, mas sem sucesso.
O silêncio fantasmagórico enchia a prisão de Atroz, cujo nome significava bem a desumanidade que aquele lugar cometia. Estava em ruínas, mas ainda podia manter algumas vidas e torná-las insignificantes. O mundo não era mais o mesmo e disto, o mundo particular de cada ser, daquele local, lutava para ser forte o suficiente para sobreviver."

(CÓDIGO DOS MARES - Os Contos do Tempo)

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